
Na ponta dos dedos amarelados da mão esquerda estava um cigarro quase inteiro. A moça chupava o cigarro como se fosse um ato sexual e quando fazia isso a luz na ponta do cigarro ficava mais intensa.
No escuro ali jazia sozinha com medo de esperar demais e perder alguma coisa.
Pensou em jogar o cigarro fora, mas desistiu e tragou. Havia sombras, vultos e talvez olhares ocultos. A fumaça subia e se espalhava lá no alto.
Ela nem notava, estava apreensiva e queria roer as unhas. Não podia por causa do cigarro, ou se faz uma coisa ou outra. Vinha lá de dentro algo novo, novo no momento porque o sentimento era reconhecível, era antigo e crônico. O cigarro já quase no fim. Era fome ou sede, ou vontade, porque qualquer vontade é fome. A solução é saciar as vontades.
O cabelo curto rasgado á navalhas e bagunçado não se movia com as provocações do vento. E a luz do poste não iluminava o suficiente para se ver o que se quer.
A espera se tornava obesa. O peso não era visível, nem o formato. Não era palpável e se mantinha ali logo embaixo do umbigo. Ânsia de saber tudo, de ter tudo, de alcançar tudo.
Não sentia frio, nem medo. O calor do fogo da ponta do cigarro parecia ser o fogo dela. Sugava a fumaça faminta e algo em seu útero mantinha-se aceso.
Entre as pernas uma abertura que era secreta e que revelaria a quem tivesse a mesma fome e a mesma força que ela. Tem coisas que são só de uma pessoa e mesmo quando se dá ainda é nosso. E se a coisa for muito nossa quando se dá o outro tem uma parte de nós e irá lembrar sempre, ou irá sofrer, ou rir, ou nem se importará.
A abertura guardava suas verdades e suas vozes. Seu livro deveria ser lido por alguém inteiro, como ela, que era inteira em tudo. Intensa nas pequenas coisas, no chute e na respiração agora ofegante. Era extremamente inteira como uma pessoa deve ser. A entrega tem que ser absoluta. - Ele não vem! Disse com uma voz seca e inaudível até para ela mesma. Porque tem verdades que sabemos, mas não queremos ouvir, nem falar em voz alta, nem imaginar, porque é duro. E às vezes nos enganamos fingindo não ver verdades que quase sempre estão expostas e acessíveis a olho nu.
Era o fim da rua, perto da esquina. A luz não mostrava tudo e a visão era prejudicada.
Os dedos amarelados soltaram o cigarro que caiu no chão. A chama ainda permaneceu acesa por alguns instantes e logo se apagou.
Escrito por Rafael Franco
No escuro ali jazia sozinha com medo de esperar demais e perder alguma coisa.
Pensou em jogar o cigarro fora, mas desistiu e tragou. Havia sombras, vultos e talvez olhares ocultos. A fumaça subia e se espalhava lá no alto.
Ela nem notava, estava apreensiva e queria roer as unhas. Não podia por causa do cigarro, ou se faz uma coisa ou outra. Vinha lá de dentro algo novo, novo no momento porque o sentimento era reconhecível, era antigo e crônico. O cigarro já quase no fim. Era fome ou sede, ou vontade, porque qualquer vontade é fome. A solução é saciar as vontades.
O cabelo curto rasgado á navalhas e bagunçado não se movia com as provocações do vento. E a luz do poste não iluminava o suficiente para se ver o que se quer.
A espera se tornava obesa. O peso não era visível, nem o formato. Não era palpável e se mantinha ali logo embaixo do umbigo. Ânsia de saber tudo, de ter tudo, de alcançar tudo.
Não sentia frio, nem medo. O calor do fogo da ponta do cigarro parecia ser o fogo dela. Sugava a fumaça faminta e algo em seu útero mantinha-se aceso.
Entre as pernas uma abertura que era secreta e que revelaria a quem tivesse a mesma fome e a mesma força que ela. Tem coisas que são só de uma pessoa e mesmo quando se dá ainda é nosso. E se a coisa for muito nossa quando se dá o outro tem uma parte de nós e irá lembrar sempre, ou irá sofrer, ou rir, ou nem se importará.
A abertura guardava suas verdades e suas vozes. Seu livro deveria ser lido por alguém inteiro, como ela, que era inteira em tudo. Intensa nas pequenas coisas, no chute e na respiração agora ofegante. Era extremamente inteira como uma pessoa deve ser. A entrega tem que ser absoluta. - Ele não vem! Disse com uma voz seca e inaudível até para ela mesma. Porque tem verdades que sabemos, mas não queremos ouvir, nem falar em voz alta, nem imaginar, porque é duro. E às vezes nos enganamos fingindo não ver verdades que quase sempre estão expostas e acessíveis a olho nu.
Era o fim da rua, perto da esquina. A luz não mostrava tudo e a visão era prejudicada.
Os dedos amarelados soltaram o cigarro que caiu no chão. A chama ainda permaneceu acesa por alguns instantes e logo se apagou.
Escrito por Rafael Franco